quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O gigante e o alemão – Homenagem a meu avô

Nascer, crescer, viver, morrer. A ordem natural das coisas. Mas será que estamos prontos para isso? Será que aceitaremos o fim e o início de cada etapa? Pois é, acho difícil aceitar. Por mais que eu não esteja revoltado com ninguém e por mais que eu entenda que tudo acontece por um porque, a ficha não cai. Não quero acreditar no que ouvi.

Ver um gigante de pé, mas saber que um dia ele se apoiará em seus joelhos é algo que me causa certo desconforto. Uma coisa seria decapitá-lo ou até mesmo o enviar ao enforcamento, mas deixá-lo exposto em prisão domiciliar aplicando uma força descomunal para que ele se ajoelhe, isso não entendo.

Um dia vi milhares se ajoelharem aos seus pés, acompanhei goblins que o queriam difamar, vi uma princesa defendê-lo de um ogro, mas com a morte de um grande homem vi este gigante se recolher e se mudar para as montanhas. Vi elfos, duendes, anões, fadas e outros seres encantados que sempre permaneceram ao lado deste gigante, e até hoje demonstram um respeito proporcional ao seu tamanho.

Soube de notícias que o gigante agora é auxiliado pela rainha, a princesa, os príncipes e sua cavalaria de guerreiros. Mas acabei de receber uma notícia , trazida a mim por um mensageiro, disseram-me que o gigante agora enfrentará uma batalha com o temido Ilitide Dementador de origem alemã. Um monstro sanguinário, que tende a atacar pessoas mais velhas, levando embora suas memórias, suas forças e, até mesmo tentando, levar sua dignidade.

Fico com o peito apertado ao imaginar tal batalha, mas sabendo o que sei, e tendo visto o que vi, tenho a certeza de que nem o gigante, nem seus companheiros do mundo mágico se entregarão e deixarão que o seu oponente leve esta batalha.

Talvez um dia o gigante, cujo nome significa vês um filho de Deus, não se lembre das batalhas que travou, dos amigos que fez, dos lugares que desbravou e até mesmo da mulher que amou.

Talvez um dia o gigante se gabe dos amigos que fez, das guerras que ganhou, dos lugares que conheceu e do amor que conquistou.

Agora não me importa mais o que será lembrado, se meu amor vai ser questionado ou se meu suor será requisitado. No fim o que importa é que eu e meus companheiros de batalha daremos nosso suor com gratidão, afinal nossas cachoeiras nunca serão do tamanho de seus oceanos. Daremos nosso amor, amor que jamais se comparará a paixão devotada por ele. E caso um dia ele não se lembre mais, eu me ajoelharei e agradecerei a Deus a oportunidade de ter vivido ao seu lado e ter escutado suas histórias, pois terei a oportunidade de me lembrar do que vivi e das histórias que escutei e assim poderei dizê-las a todos que se interessarem.

A certeza que tenho é que este gigante jamais será abandonado. Newton nos disse uma vez, "toda ação provoca uma reação de igual intensidade, mesma direção e em sentido contrário", assim por mais que o oponente aplique forças sobre ele, nós retribuiremos com amor, carinho e dedicação.

No fim ficarei com a certeza de que o gigante fez tudo que pode, errou mas acertou, amou e foi amado, brigou e se desculpou, lutou e venceu. Como nos disse Drummond, “no fim as coisas findas, muito mais que lindas, estas ficarão” e assim saberei que “se pude ver mais longe, foi por estar de pé sobre ombro de gigantes” (Isaac Newton).

Igor Reis Moreira Mathias

Um comentário:

  1. Eu choro toda vez que leio esse texto... uma sensibilidade e verdade únicas... só que tem uma percepção aflorada entende o que você diz...

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